O COVEIRO
Encontrei um coveiro extremamente atraente
Fazendo seu serviço fúnebre à tarde, quase noite
E ao doce vento dos voos dos morcegos
O observei pensando, rangi os dentes
Com as mãos precisas e ágeis ele enterrou o abate
Esperando que ele encontrasse sossego
O verde em seus olhos expressa esperança
De que os mortos não se percam no caminho
Eles certamente o agradecem pelo suor empapado no rosto
Tapando o buraco em que o cadáver foi posto
Me perdi no caminho vendo ele trabalhar sozinho
Sorrindo seu doce e puro sorriso de criança
Quem me dera ser o caixão que ele carrega
Que carrega o corpo, em seu leito eterno
Para ver os lindos contornos da face que me enterra
Doce ajudante da morte, que não a aceita mas que também não a nega
E não importa se a alma foi para o paraíso ou para o inferno
É ele quem as põe sete palmos debaixo da terra
Eu posso ver claramente, a beleza do contorno do seu pescoço
Sua silhueta está coberta pela luz do pôr-do-sol
Que vai escurecendo o seu tom quando a noite aperta
Ele é uma daquelas aventuras que antecedem a morte certa
É a conservação minimalista, perigosa e cancerígena do formol
Que não se espanta facilmente,
mesmo carregando mortos no dorso
- Seus olhos verdes exalam a essência da própria existência.