O COVEIRO

Encontrei um coveiro extremamente atraente

Fazendo seu serviço fúnebre à tarde, quase noite

E ao doce vento dos voos dos morcegos

O observei pensando, rangi os dentes

Com as mãos precisas e ágeis ele enterrou o abate

Esperando que ele encontrasse sossego

O verde em seus olhos expressa esperança

De que os mortos não se percam no caminho

Eles certamente o agradecem pelo suor empapado no rosto

Tapando o buraco em que o cadáver foi posto

Me perdi no caminho vendo ele trabalhar sozinho

Sorrindo seu doce e puro sorriso de criança

Quem me dera ser o caixão que ele carrega

Que carrega o corpo, em seu leito eterno

Para ver os lindos contornos da face que me enterra

Doce ajudante da morte, que não a aceita mas que também não a nega

E não importa se a alma foi para o paraíso ou para o inferno

É ele quem as põe sete palmos debaixo da terra

Eu posso ver claramente, a beleza do contorno do seu pescoço

Sua silhueta está coberta pela luz do pôr-do-sol

Que vai escurecendo o seu tom quando a noite aperta

Ele é uma daquelas aventuras que antecedem a morte certa

É a conservação minimalista, perigosa e cancerígena do formol

Que não se espanta facilmente,

mesmo carregando mortos no dorso

- Seus olhos verdes exalam a essência da própria existência.

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 08/06/2020
Reeditado em 05/10/2021
Código do texto: T6971628
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