Ultimo pedido
Não sou de cobre, não sou de ferro, não sou de aço.
Sou osso, sou nervo, sou carne.
Os dias veem, os anos vão, me desfaço.
Estou aqui, amanhã já não estarei.
Quando eu morrer, peço aos meus amigos,
Façam isso comigo - grato fico!
Aos inimigos meus, nada digam - foram perigo.
Não dividam-me por completo como a Mário de Andrade.
Os meus ouvidos enterrem na prefeitura.
O esquerdo na sala do secretário,
O direito no gabinete do prefeito,
Quero saber tudo que lá se passa.
A minha língua!
Essa, sepultem-a no centro da cidade,
No ponto mais movimentado,
Para eu contar a verdade.
Os restos do corpo deixem-os na terra - é dela,
O espírito volta a Deus - é dele.
Arranguem da câmara o gládio
E ponham um florão, por um instante deixem-me lá.
Às pessoas que me velarem, clamem - ninguém chore!
Provoquem-as a rirem, rirem até cansarem.
Ao meu amigo mais íntimo, deem a hora do arengar.
Ponham lustrais e olente nas principais ruas da cidade
E cortejem-me por elas.
Sejam breves! Entre todos, enfunar não quero.
Ah! O escapulário que está dentro do armário,
É ela!
A minha esposa e os meus filhos que atarão ao meu pescoço.
Adeus!