Carta para Morte

Olá, dona da vida.

Vulgo Morte.

Pois é tu que determinas quando a vida tem seu fim.

Encontrar-te não é acaso

Tão pouco um caso de sorte.

Talvez eu a tenha visto,

Usando um vestido preto de cetim.

Nesta carta faço-te um pedido:

Jante comigo?

Jataremos em um muquifo.

Pois não tenho dinheiro.

O tempo me disse:

"Levarás contigo somente o primeiro verme que roer as frias carnes do teu cadáver."

Durante o jantar, eu mesmo irei dar-lhe de comer.

Colocarei sobre a mesa a minha juventude

Acompanhada de tudo o que tomei para morrer.

Colocarei sobre a mesa a minha velhice

Acompanhada de tudo o que tomei para não  morrer.

E por último a sobremesa,

As atitudes que aproximaram-te de mim.

Cada atitude egoísta;

Cada atitude altruísta.

Cada silêncio de dor;

Cada grito de amor.

Os sorrisos que não dei;

As lágrimas que não chorei.

Pois hoje eu deixei de viver.

Pois morto, eu já estava há muito tempo.

Fernando Lobato
Enviado por Fernando Lobato em 11/04/2020
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