Carta para Morte
Olá, dona da vida.
Vulgo Morte.
Pois é tu que determinas quando a vida tem seu fim.
Encontrar-te não é acaso
Tão pouco um caso de sorte.
Talvez eu a tenha visto,
Usando um vestido preto de cetim.
Nesta carta faço-te um pedido:
Jante comigo?
Jataremos em um muquifo.
Pois não tenho dinheiro.
O tempo me disse:
"Levarás contigo somente o primeiro verme que roer as frias carnes do teu cadáver."
Durante o jantar, eu mesmo irei dar-lhe de comer.
Colocarei sobre a mesa a minha juventude
Acompanhada de tudo o que tomei para morrer.
Colocarei sobre a mesa a minha velhice
Acompanhada de tudo o que tomei para não morrer.
E por último a sobremesa,
As atitudes que aproximaram-te de mim.
Cada atitude egoísta;
Cada atitude altruísta.
Cada silêncio de dor;
Cada grito de amor.
Os sorrisos que não dei;
As lágrimas que não chorei.
Pois hoje eu deixei de viver.
Pois morto, eu já estava há muito tempo.