Diálogos e monólogos no inferno

Almas errantes... brados frêmitos...

Caos, choros, uivos endêmicos

Deste podre lugar sem pulcros...

Choro sem consolo, sem fulguras...

Cadáveres, corpos, ossaduras...

Incuriosos nos sepulcros.

Cadáveres a andar nos choros

Castigados pelos anos vindouros

-Ashver- Por quê caminhas e choras ?

Deixa esta letarga alma que outrora

Pelos deuses foi querida...-

-Morra! Torna-a impoluta!-

-Descansa! Desta afã labuta-

Que nos sonhos vaga perdida...

-Morra! que sofrerás no inferno

A cada dia, no castigo eterno!-

-Ouço-Mas qu'alma uivas ?!

-Calor e frio... labaretas e pulvas...-

-D'onde saiste tamanha violência ?-

-Choro, labuta, espectros...-

Alma de Aquiles e de Homeros,

Acorda da cova com diligência...

Saem melodias das vestais

Auroras e cânticos infernais...

Todos vomitam às oblatas

-Tocam arpas às nefelibatas-

- Que o choro se musicalize

Para flutuar nos densos ares

Mergulhar no sangue dos mares,

Os sangues da hemoptise-

E os eunucos castrados e errantes,

Consumidos pelo Cerberus uivante...

Os espíritos zoofitam nas projeções

Aqui, a chama arde nas aflições,

E são dilacerados na serraria...

Cortado alma decresce

Morto, das lâminas desce,

E Pedro transforma em poesia

- Não transformes em poesia

O sangue, a dor e a rebeldia...-

Cardoso de Figueiredo
Enviado por Cardoso de Figueiredo em 06/04/2020
Reeditado em 24/04/2020
Código do texto: T6908705
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