Diálogos e monólogos no inferno
Almas errantes... brados frêmitos...
Caos, choros, uivos endêmicos
Deste podre lugar sem pulcros...
Choro sem consolo, sem fulguras...
Cadáveres, corpos, ossaduras...
Incuriosos nos sepulcros.
Cadáveres a andar nos choros
Castigados pelos anos vindouros
-Ashver- Por quê caminhas e choras ?
Deixa esta letarga alma que outrora
Pelos deuses foi querida...-
-Morra! Torna-a impoluta!-
-Descansa! Desta afã labuta-
Que nos sonhos vaga perdida...
-Morra! que sofrerás no inferno
A cada dia, no castigo eterno!-
-Ouço-Mas qu'alma uivas ?!
-Calor e frio... labaretas e pulvas...-
-D'onde saiste tamanha violência ?-
-Choro, labuta, espectros...-
Alma de Aquiles e de Homeros,
Acorda da cova com diligência...
Saem melodias das vestais
Auroras e cânticos infernais...
Todos vomitam às oblatas
-Tocam arpas às nefelibatas-
- Que o choro se musicalize
Para flutuar nos densos ares
Mergulhar no sangue dos mares,
Os sangues da hemoptise-
E os eunucos castrados e errantes,
Consumidos pelo Cerberus uivante...
Os espíritos zoofitam nas projeções
Aqui, a chama arde nas aflições,
E são dilacerados na serraria...
Cortado alma decresce
Morto, das lâminas desce,
E Pedro transforma em poesia
- Não transformes em poesia
O sangue, a dor e a rebeldia...-