Não sei dizer adeus
Querida amada minha, hora esta é chegada,
De tão sombrio horror qual ira e rancor seus,
Triste é vê-la chegar – não poder fazer nada,
Inda ter de dizer tão dolorido adeus.
Em verdade não sei lidar com despedidas.
Não sei mesmo, mulher, tola fraqueza minha.
Confesso, e é que basta, as alegrias sentidas
E o medo de partir: temor que me definha.
Adeus não sei dizer – nisso não tenho dolo:
Sobre o que é de sentir, não há quem delibere.
Sei bem o que é a dor – não sou que te consolo,
Pois não sei expressar valor que a esmere.
Queria eu saber como é que se diz
Adeus e bastaria, e mais não pediria.
Só e me contentaria, ah! Seria feliz...
Para que ir além se despedir-me iria?
Teria que apenas então dor da falta sentir.
Mais não perturbaria assim esse desgosto
De adeus não saber dar na hora má de partir;
Coisa mui triste é tal fardo a mim imposto
A mim restam os ais; donzela, não consigo...
– Tão dura qual meu verso é a vil timidez;
Espero minha vez de estar em meu jazigo,
Onde os que hão de dizer adeus serão vocês.