Não sei dizer adeus

Querida amada minha, hora esta é chegada,

De tão sombrio horror qual ira e rancor seus,

Triste é vê-la chegar – não poder fazer nada,

Inda ter de dizer tão dolorido adeus.

Em verdade não sei lidar com despedidas.

Não sei mesmo, mulher, tola fraqueza minha.

Confesso, e é que basta, as alegrias sentidas

E o medo de partir: temor que me definha.

Adeus não sei dizer – nisso não tenho dolo:

Sobre o que é de sentir, não há quem delibere.

Sei bem o que é a dor – não sou que te consolo,

Pois não sei expressar valor que a esmere.

Queria eu saber como é que se diz

Adeus e bastaria, e mais não pediria.

Só e me contentaria, ah! Seria feliz...

Para que ir além se despedir-me iria?

Teria que apenas então dor da falta sentir.

Mais não perturbaria assim esse desgosto

De adeus não saber dar na hora má de partir;

Coisa mui triste é tal fardo a mim imposto

A mim restam os ais; donzela, não consigo...

– Tão dura qual meu verso é a vil timidez;

Espero minha vez de estar em meu jazigo,

Onde os que hão de dizer adeus serão vocês.

Rodrigues Aires
Enviado por Rodrigues Aires em 31/03/2020
Código do texto: T6902009
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