VÍTIMA E ALGOZ
Na intenção de me matar,
Eu sei que você veio.
No teu dia de sabá,
Meter o bedelho.
Não quis esconder o rosto,
Para olhar dentro dos meus olhos.
Já cavaste até para mim o fosso,
E aguçastes os micróbios.
Foste liberto de uma jaula,
E hoje vem como fogo amigo.
Antes de encomendar minh'alma,
Atenda-me com um último pedido.
Apague logo a luz,
E me acenda uma vela.
Convide pro banquete os urubus,
E dispense todas as corbelhas .
Pode de mim escarnecer,
Nestes últimos instantes.
Não quero lápide com clichê,
Tampouco discursos pedantes.
Conquistarei meu pedaço de terra,
E o meu descanso será eterno.
Talvez receba flores da primavera,
E o clima aos arredores será etéreo.