O homem corvo
Dos círculos sociais me esquivo
Da infame reuniões dos vivos
Eu repouso nas ruínas tumulares
Mesclado a esse mundo tenebroso
Mais denso que um pântano venenoso
Sigo tal um corvo agourando os ares
Eu celebro a vida que se apaga
Com minha boca regurgitando pragas
Eu me batizo no pó e na miséria
E a cruz da vida cerra o seu suplício
Levo todos como ovelhas pro sacrifício
Reduzindo-os a um banquete das bactérias
E a luz do dia é aquilo que mais odeio
Nasci das trevas do que é tortuoso e feio
Uma vida se apaga e uma vela acende
Sigo criando um mar de velas acesas
Tal uma sombra me alimentando das tristezas
Essa beleza somente a noite entende
E a morte chega a todos em um segundo
Da tênebra vou agourando o mundo
Na euforia de ver os sonhos morrendo
E o pranto cortando o silêncio da madrugada
Com corpos apodrecidos enfeitando as estradas
Com abutres por cima e os vermes lhe corroendo