Cismas de minha morte

Só sobra a carcaça,

Marchas fúnebres e mórbidas

Estou prostado em uma caixa sólida

Refletindo sobre a minha desgraça!

Cítolas, liras e violões

Choram minhas dores

Em vida, toquei-os para os meus amores

Recitando sonetos de Camões

Ainda carrego trágicas dores

De ser abstrato, inconsistente e monista

Fui poeta, escritor e artista

Mas só morto, recebi flores!

Por que arrancou da árvore seus gineceus ?!

Para poder dar -me ?!

Isso é improfícuo, pois pode observar-me

Subindo aos céus!

Eu não quero receber matos!

Pois secou meu "corpo de plasma"

Vou viver sob "fisiologia de fantasma "

E o que resta, será devorado por ratos!

Já vejo Davi com seus salmos

Alegre, sorridente e cantando

Meu corpo podre está se deteriorando

Debaixo de sete palmos!

Em inexoráveis rogos

Vejo a escuridão tomando conta da visão

Em lágrimas telúricas de aflição

Minha sombra faz monólogos!

É a morte, meu caro!

Este ciclo energético poderoso

Que apodrece as carnes de um leproso

E ele sente o fedor pelo faro!

A morte é uma hórrida festa!

Que agoniza todas as células dos embriões

O vírus que habita os pulmões

Dança, coagula e se manifesta!

-Por que meu corpo continua adoecido ?!-

Grito, nessa infinita imensidão

Tenho uma profunda exatidão

Das tristezas de um nascido!

Cardoso de Figueiredo
Enviado por Cardoso de Figueiredo em 22/11/2019
Reeditado em 15/02/2020
Código do texto: T6801349
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