Motivos de um homicídio
Ela era branca e ruiva
Adorava um samba e pagode
Mas dançar na roda, proibia o marido
Dançar na roda não pode
A ruiva desapontada
Da janela entristecida
Acompanhava acordada
Sua canção mais querida
Logo em frente, mais embaixo
Da sacada da menina
Estava a roda a tocar um samba
Na mesa do bar da esquina
Sem poder nada falar
De cima observava
Outras meninas dançando...
Há tanto tempo não dançava!
Porque de dançar samba
Tinha sido proibida
Pelo marido ciumento
E ficava entristecida
Tanto observava que
Tendo uma chance primeira
Da escada pôs-se abaixo e
Foi dançar a faceira
O marido não estava
Em casa naquele dia
Então dançou a noite inteira
Pensava ele, “ela dormia”
Mas o dia amanhecia
Quando o marido chegou
Do trabalho, e na frente do bar
Com a branca ruiva se deparou
Foi uma surpresa não quista
A mulher se enrubesceu
De vergonha ficou vista
E o marido enraiveceu
Não porque dançava samba
Ou porque a noite estava no fim
Era porque estava nos braços
De Chico do Bandolim
O marido viu aquilo
E a roda toda se calou
E então enraivecido
Na ruiva branca se atirou
E grudado em seu pescoço
Repetia amargurado
Aquela grande humilhação
Pela qual tinha passado
Chico do Bandolim covarde
Rapidamente tentou fugir
E num grito de alarde
Já não pode mais seguir
O marido muito irado
De uma arma então sacou
Apontou naquele rumo
E quatro tiros disparou
Chico do Bandolim corria
Não sabia pra onde ir
E depois dos tiros dados
Ao chão começou a cair
A ruiva branca estava mal
Agredida na calçada
E o marido sem pensar
Matou também sua amada
Todos da rua olhavam
Aquele homem com malícia
Até que passado um tempo
Foi preso pela polícia
Na cadeia nunca contava
O que tinha acontecido
Era o preço do orgulho
De um marido traído
Mas num momento de descuido
O preso seguiu calado
Tempos depois foi descoberto
Morrera suicidado
Esses são os legados
De uma triste proibição
Um samba, uma dança
E também uma traição
Levaram um honesto homem
A praticar dois homicídios
E com remorso e tristeza
Cometer o suicídio