Flor da Viúva
Ao redor, branco:
Nos ombros, um manto;
E a flor na mão, puro encanto.
Nela: Vestido preto,
Pensamento denso
E o Luto intenso de dentro.
O pesar busca algo para se refugiar
Seja uma flor pra cheirar
seja um xaile pra se enroupar.
Lágrimas de saudade
De uma distante realidade
Expurgam sua tristonha face.
O pesar insiste em não partir,
Enquanto a viúva não o sentir,
Para que ele possa, com o tempo, diminuir.
Ao libertar o pesar,
será inimigo o desrespeitar
porque a viúva precisa se expressar.
O tempo necessário depende
de quanto ELA precisa chorar pelo perdido ente
e não da sociedade que conter o pesar tende.
Mas, por outro lado, pela sua perda,
A viúva impreterivelmente deixa,
em todo o momento, que o seu sorriso se perca.
Ela acha que a alegria,
de forma rígida, é proibida
E do pesar é submissa.
A perda deixou um vazio
Tão grande que sumiu
A vontade de sorrir sem quem partiu.
A viúva cheira a flor
E se condena com tanta dor,
Pois foi irresistível não sentir por ela amor...
A flor com sua intrínseca beleza
fez a viúva reconhecer na natureza
que não há apenas dor pela redondeza.
A viúva se sentiu acolhida
pelo manto em cima
de seus ombros e da melancolia.
O universo é tão convidativo
para acharmos que é proibido
sorrir após o que nos é dolorido.
O interior se clareia pela compreensão
de que a tristeza é uma sensação
num direito nosso próprio pela separação.
Mesmo que difícil seja a sua aceitação,
a viúva sabe que ela é a única pessoa que não
consegue dizer até quando vai sentir tristeza ou animação.
Há de sentir, elaborar e ressignificar
Uma vida, uma perda e o amar,
Quando a vida conseguir continuar...
E ao contrário do que se imagina,
Há muito mais gente ainda viva
Que quer fazer a ela companhia.
Ela vai reconhecer quem ainda pode vivo enxergar,
no tempo dela que é só dela, embora possam mostrar lamentar
Que não os enxerguem no momento pela tristeza do luto a se liberar.
Belíssimas Interações de:
(feitas para a primeira versão do poema mais fria)
- Raio Eterno
Toda viúva tem seu encanto
mesmo sem levantar o seu manto
mesmo quando em prantos
às vezes causa espanto
às vezes nem tanto.
- Sócrates Di Lima
Uma viúva de um tempo certo
Por certo chorou suas dores em público
mas o tempo e os consolos se fizeram deserto
Para se refazer da perda em poema lúdico.
- Norma Aparecida Silveira Aparecida
A viúva vive com tristeza
Por ter perdido o companheiro
É um período único, sem beleza
Mas de muita reclusão e respeito.
- Jacó Filho
A viuvez fere o peito,
Ao impor tal liberdade,
Somando a castidade,
Suas causas e efeitos...
Pintura: Zelmer Lee Bogle - The Rose Artist (Oklahoma, USA)