BAGDÁ, 30 DE DEZEMBRO DE 2006
A maldade do mundo
[ perplexo labirinto ]
Corda de pescoço
[ bicho irremediável ]
Cuspe na cara de Maomé
[ pústulas espremidas ]
alquimia da cólera
[ besta profana ]
dançam à revelia da fúria, outrora represa insaciável
um balé de executores famintos
por sangue e sede de futuro
bom
é preciso resignar
assumir a outra molécula quântica dos sinais
profanações sistêmicas
geopolíticas
seu olhar haverá de me devorar
não mais sunita
demagogo
senhor de mim
tirano
agora assume a forma
de uma criança sem pai e mãe
vestida de um pijaminha listrado
ursinho de pelúcia entre os braços:
(eis o dia em que o coração da humanidade
desacelerou no corpo da maldade)
Nota 10 aos carrascos
Cartinha escrita ao Papai Noel:
beijo de piedade.
* Eu tinha dez anos de idade quando Saddam Hussein foi executado numa forca. Aquela cena transmitida na televisão me marcou para sempre. Não conseguia me perdoar por sentir tanta piedade por um monstro. Hussein escreveu uma carta dois dias antes de morrer dizendo que estava preparado para cumprir a sentença. Fiquei absolutamente angustiado ao vê-lo resignado pedindo informações aos carrascos de como proceder. Seus olhos pareciam naquele instante de criança órfã. Em suas mãos, o Alcorão. Pagou-se sangue com sangue. Reticências dolorosas sempre margearão a Humanidade.