Por que o índio não gritou?
Índio bom
Índio justo
Cresceu na natureza
E com ela vivia em harmonia
Mas um dia, os homens brancos chegaram
Levaram novos conhecimentos
Um troço chamado tecnologia
Então o indiozinho filho do índio conheceu a grande janela
Sim a grande janela chamada televisão
Viu um novo brinquedo
Conheceu o tal do tênis do homem aranha
E o indizinho queria muito aqueles troços de homem branco
O papai índio havia aprendido a ler com os homens brancos
Tornara se um professor
Sim o papai índio era um mestre
Ensinava os outros índios a lerem
Mas nada ganhava pois ensinava de graça seus amigos
Mas o teu pequeno filho queria um tênis do homem aranha
O herói que havia conhecido através da grande janela
Índio então decidiu
Ia comprar o tênis de homem branco para seu filho
Resolveu então ir para outro estado
Um com nome de santa
Lá chegando passou a vender picolé
A cidade praiana tinha muitos turistas
Com perseverança e simpatia, o velho índio trabalha
Carregando de lá pra cá seu carrinho
Vendendo picolé
Esperava juntar dinheiro para comprar o tênis para seu filho
Índio amava o filho
Amava tua esposa
Amava a natureza
Ela podia lhe dar tudo
Menos o tênis para seu filho
Ele ainda lembrava do abraço do filho antes de partir
E também do abraço da mulher
Antes de entrar no barco acenou para eles
Esperando logo voltar
Mas a vida com o índio foi má
O pobre índio daquela praia nunca mais voltou
Para economizar dinheiro e comprar o tênis para o filho
O índio dormia na rua
E em sua segunda noite
Ninguém sabe o por quê
Um homem branco armado com um pau
Atacou o pobre índio
O índio não correu
E não gritou
Aguentou calado a violência
Ninguém fez nada para ajudar
Um morador de rua que viu de longe não entendia
Por que o índio não gritava?
Por que apanhava calado?
O morador de rua começou a gritar
Quando escutou o barulho da viatura o homem branco covarde fugiu
O índio muito machucado
Só pensava no filho
Na mulher
Na aldeia
Tentou vê-los novamente em sua mente
Seu filho chamando papai
A mulher mandando ele se cuidar
Mas de repente a imagem do filho e da mulher foi se apagando
E os olhos do índio se fecharam e nunca mais se abriram.
Inspirado numa história real acontecida com um índio em 2017 na cidade de Penha Santa Catarina.