entre lá e cá: sobre pessoas que decidiram morar no limbo
Somente diante da morte é que quase todos conseguem virar santos
Quanto mais violenta, mais purifica o coração daqueles que ficaram
Somente diante da morte é que poderei desenterrar tudo o que está soterrado dentro de mim
Poderei ficar livre das pessoas que me amarraram em seus pedaços
Enfim serei uma morta pura em vez de uma espécie de Frankenstein com pedaços de corações e peitos rasgados cheios de gase e suturas
Na morte tudo fica em paz - é obrigatório, senão, a morte volta pra te ameaçar e deixa os fantasmas de guarda -
a pomba branca pousa em cima dos túmulos
e deseja uma boa vida para quem teve a sorte de morrer dormindo
Eu não sei o que será de mim esta noite
Meu peito dói tanto que posso confundir pneumonia com um coração sangrando; um dos dois eu tenho
Somente diante da morte é que se torna aceitável morrer de amor
Ela vai te engolir
e comer tudo o que você sentiu
e te fará ver que nada somos
e nada dura mais do que somente o tempo em que a surpresa é apenas a novidade antes que se torne um tormento
Antes de eu morrer, quero que abram o meu peito e me mostrem que dentro dele realmente não tinha nada
Quero mostrar o meu coração para vocês verem o quanto ele é inútil e preguiçoso até pra fazer o que é de obrigação
Morrer dormindo é um luxo para poucos
Hoje matei muitas pessoas
Se foram na fumaça enquanto eu fechava meus olhos e imaginava um último beijo na nuca e um abraço por trás
Olhei as árvores e todas estavam nuas, porque as folhas velhas e sem cor precisam morrer para darem espaço para as novatas que acreditam que a primavera é a única estação e que o outono não vem para todos.
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