Plena.

Um dia a água corre

Noutro dia ela evapora

Ela chove

E quando ela chove,

Molha o mundo

Agora, molhado

O mundo olha a vida

Desconfiado de que o mundo morre

E percebe que morre

Quando isso acontece

O mais profundo sentimento

Que ao mundo ocorre

É que a vida é momento

E que é preciso viver a vida

Só isso

Voltas inteiras

Volta e meia, morre o mundo

Morreu de palavras pequenas

Água, vapor, ambição, chuva, mundo

Hora, tempo, dor, segundos

Vosso, nosso, teu e meu

Poeira de vida apenas

Sem motivo ou inspiração

Inexiste ação divina

A passar pelo prisma

São só coisas da vida, aos olhares do mundo

Uma coisa triste, embora viva

Mundano, infecundo, molhado,

Imensamente pequeno e perdido

Por vezes, iluminado

Mas somente o lado sem luz

E depois o mundo morre

Morto o mundo

E a gente, para o Universo

É morta a poesia

Pára

Evapora

Eram só versos mundanos

Sem causa divina

Nada muda

E depois de apenas uma pausa

Lá se vai a vida

E depois de apenas uma vida

Lá se foi a causa

Tão bonita e tão plena ela era

...enquanto era escrita.

E nem lida ela foi.

Edson Ricardo Paiva.