MORS PRAECOX

Exaurido pelo ódio a queimar-me nas costelas,

aceito estar excluso pela vida às coisas belas.

Feiura que me unge e esconde de luxúria

aos braços de solitária meretriz; frio abraço de penúria.

Encamado e de mocidade ressecada, um farrapo,

o corpo serve agora aos ossos como mero trapo.

Lar de meus mil males, aglomerado eclesiástico

desfeito pela boca em doído porvir cáustico.

E à hora de minha morte, poupem-me da cruz e dos prantos,

poupem de suas preces os pobres santos,

que tomarei de confessionário uma janela e por padre a alvorada.

Falar-lhe-ei de pecados e desgostos, ah, que tenho tantos.

Deitar-me-ei para ver os idos virem envolver-me em seus mantos

carregando-me por fim à minha última morada.

Vinícius Alvarenga
Enviado por Vinícius Alvarenga em 05/03/2019
Código do texto: T6590372
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