Délire de l'au-delà

Bestialidade - vê o verme sobre a carne

Acasala sobre a morte com escarne

Narcisismo - pois que a carne é sua própria

Ejacula em espírito sobre a anterior escória.

Nefilim - exclama teu pecaminoso vernáculo!

Faz cair a ira de teu avô sobre teu receptáculo

Vigilante - retorna uma vez mais com teus duzentos

Traz a ira de teu pai sobre nós, não teus rebentos.

Traz chuva no dia nono e então nos dez seguintes

Afoga-me com o amor meu, e seremos pro além teus ouvintes

Quanto ao resto, como queira, pegue-os incautos

E seremos, eu e o amor meu, depois do além vossos arautos.

Além - donde o vento às papoulas verte som na gerúsia

Donde o seio de Vênus alimenta o natimorto na indúsia

Ópio - que baforam Crowley e Pessoa ao ditar nossas leis,

Adornados em dentes e ossos de velhas rainhas, os novos reis.

Jazem vivos, jazem mortos, jazem meros rascunhos

Vive-se entre quem feneceu e também quem nem nasceu.

Falecidos dão de ombros, e o abortado cerra os punhos

Irado pela lápide erigida onde sequer um dia viveu.

Há pra toda alma penada porém o mesmo além

Além do pós vida é além do pré também.

Assim creio. Assim dou apelo aos nefilins e vigilantes.

Assim imploro para adentrar aos seus palácios errantes.

E não, não me interessa ver Deus derramar outro dilúvio.

Podem bem deixar-me sair antes, e sentir do corpo o podre eflúvio.

Em bestialidade - vendo o verme sobre a carne,

Acasalando sobre minha morte com escarne.

Em narcisismo - pois que a carne era minha própria

E ejacularei em espírito sobre minha anterior escória.

Vinícius Alvarenga
Enviado por Vinícius Alvarenga em 18/01/2019
Código do texto: T6553590
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