A MORTE
A MORTE
Eu sou a morte no jogo da vida,
No logro da vida eu sou tua sorte;
Se tu es riqueza, eu sou o teu medo,
Sou negro segredo, sou gasto, sou forte.
No amargo alimento sou tua gastura,
Que arrasa tua alma, atrasa teu corpo;
E no desconforto que vem e abrasa,
Sou porta lacrada, sou tua loucura.
No triste desterro da vã liberdade,
Sou vala encoberta prendendo os espíritos;
Que vagam num mundo sem paz e saudade,
Sou tua maldade, sou farpas de espinhos.
Se andas sozinha, te quero a meu lado,
Sou a tal boa morte, sempre a te cercar;
E tu, oh! Coitada, vida desgraçada,
Não tem quase nada, nem vale chorar.
*J.L.BORGES