De vós, despeço-me

Por que você estava demasiadamente ocupado

Pelo comentário superficial, sem sentido e apressado

Pelos problemas se acumulando em cima da minha mesa

Solidão acompanhada convertida em tristeza

Pela queda solitária sem mão para reerguer

Por esta prisão invisível que fizestes pra me prender

Por toda a falta de elogios e de compreensão

Por esconder em recônditos frios teu doente coração

Pelo mau entendido que ficou por isso mesmo

Por todas mensagens de amor enviadas a esmo

Por todo egoísmo, soberba e falsidade

Por quem se disse amigo mas não era na verdade

Por ter sonhado, desejado ter vivido mais amores

Por esperar da vida um pouquinho mais de cores

Por você que preferiu virar as costas a debater

Você que quis amenizar o fato de me bater

Me espancar, rasgar minha roupa, me surrar

Invadir minha privacidade, destruir meu celular

Por você que não assumiu o que sentia

Por você que me pôs de molho na água fria

Pelo desprezo teu me vendo passar sem ser notado

Pela sensação de já estar morto, esquecido e enterrado.

Telefone psiquátrico que chama sem atender

Por ser o centésimo segundo na fila do CVV

Pela corda no pescoço e a gilete enferrujada

Por você que pressentiu, quis falar mas não fez nada

Pelos parentes e amigos no enterro a chorar

E por aqueles dois cigarros que você irá fumar.