O silêncio da morte
A morte é um grande silêncio.
A morte nada tem a ver aqui na terra com a alma que se foi desse plano, tem a ver com a poesia das paredes, com o gelado do piso, com o coraçao pulsante de sangue, nosso que fica, batendo e que continua a bater.
Tem a ver com o silêncio de uma cozinha e com o relógio de parede que faz o mesmo som de anos.
A morte tem a ver com libertaçao. A minha libertaçao de uma raíz que vivia cravada debaixo dos meus pés. Eu nao tenho nada a ver com esse corpo morto que agora dorme debaixo da terra, mas mesmo assim, sinto como se folhas que em mim grudavam, secaram e caíram.
Resumidamente, a morte tem a ver com silêncio.
E agora eu tenho a voz parecida daqueles que sentiram na ponta dos dedos o que é um corpo perder a temperatura em segundos, e um ultimo suspiro que, longo e lento, se dissipa na matéria.
Logo depois, o silêncio, que te coloca de frente, ainda assim, consigo mesmo.
A morte é o meu silêncio. De nada posso pensar que o que vejo da morte tem a ver com o próprio morto, que está tendo revelaçoes e sensaçoes que vão muito além da minha compreensão agora. Se pensar eu no que é a morte para o morto, sinto que atrapalho seu processo. Eu que ainda tenho corpo, tenho tambem embutido em mim a prisão do que é ter que pensar com os pés firmes no chão, sem com que o pensamento se embarelhe por conta da morte, pois há de ter firmeza... há de ter vontade de viver... com corpo, ainda.
A morte é o silêncio que me desafia a respirar. E respirando é que sinto a dor, a alegria e o desafio de saber agora, pra onde vou com uma raíz cortada.