O NÓ GÓRDIO

Vi os melhores destruídos pela AIDS.

Consumidos pela culpa, pela vergonha.

Eles que apreciavam A Bela da Tarde

Enquanto tragavam baseados de maconha.

Vi meu amigo cego e louco no escuro

De um porão, em completo abandono.

Ele que lera os contos de O Muro,

Único que entendia a arte de Yoko Ono.

Tantos outros apodrecidos por fungos,

Carcomidos por colônias de bactérias -

Amigos que faziam do Belo coisa séria.

Todos sofridos, calados, sem resmungos.

Foram injustiçados pelo Grande Relógio.

Nomes impressos nas manchetes de jornais.

Não puderam desatar a tempo o nó górdio.

Amigos resumidos agora a nunca mais.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 11/08/2018
Reeditado em 08/11/2020
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