Empecilhos
Quando eu quis partir,
Tentaram me impedir
Mas enquanto permanecia,
Ninguém esteve aqui.
Ninguém sofreu comigo
Os momentos de dor
Nem suportou o dilema
Que a mim se mostrou.
Ninguém deu atenção a uma reclamação,
Um pedido, um apelo, uma visitação.
Ninguém manifestava a mais leve emoção
Em minhas conquistas vividas até então.
Ninguém se doeu
Quando eu reclamei
De omissões e ausências
Que tanto se fez.
Ninguém fomentou
A gana de viver
Que havia presente
E se apagou sem se ver.
Ninguém exaltou a virtude do ser
Sempre relutante
Que teimava em viver
Ninguém fez menção
Do quanto vivi
De todas conquistas,
Nem do que senti.
E agora me julgam por querer partir
Já em muitos pedaços,
Fragmentos de mim.
Me impelem coragem sem reconhecer
O quão corajosa
Essa vida me fez.
Não citam as conquistas,
Virtudes, paixão.
Só criticam uma escolha
Que é de minha intenção.
Ninguém notou uma vida
Cheia de ideais,
Pois andavam ocupados
Criticando demais.
Ninguém tem propriedade de me impedir
No meu livre arbítrio,
Se não torceu por mim.
Ninguém pode ser empecilho na ida
De quem sempre na vida,
Foi tão impedida.
Ninguém pode ocultar a verdade que é
Ter parcela de culpa em cada decisão
Que outros tomam na vida
Pelo sim e pelo não.
Ninguém pode omitir
Que tentaram viver
Interferindo na vida
De um outro ser
Privando de ser pleno,
Dono de si,
De erros e acertos
Que só competem a mim.
E se fazem empecilhos
Por mais uma vez
Impondo aos outros
Sua hipócrita sensatez.
Sempre a fingir se importar com você
Se mostrando solícito
Sem de fato o ser.
Sem nenhuma ajuda na vida ofertar
Nenhum sacrifício nunca ousaram fazer
E ousados se mostram impedindo a partida
No que não lhes compete
A essa altura da vida.
E sem nenhum pudor ou preocupação
Despontam agora em minha direção
Se fazendo de solícitos, com boa intenção
Sem nunca terem atuado
Para minha consagração.
Sempre aptos
Às minhas fragilidades apontar
Sempre negando
Todas as virtudes que há.
Julgando que podem já me atingir
Nesse trem de partida
Que aguarda por mim.
Fingindo empatia ou preocupação
Me querem de fato, na mesma estação.
Por fora criticam, lamentando eu sair
Numa cena tão tétrica, por dentro a sorrir.
Falam sempre de tudo,
Mas de tudo que é mal
E não viveram nada
De minha vida real.
Não sejam empecilhos
Se sou dona de mim
De meu livre árbitro
Depende o meu existir.
Se depender de apoio ou aceitação
Pra viver minimamente nesse mundo cão
Vão morrer frustrados,
Pois não terão isso não.
E se escolho a partida
Após muito viver
É por não ter saída
Nesse caos que se vê
Quem encontra não partilha
O trunfo com ninguém
E torce para que não encontrem
Julgando deles merecer.
A maldade desponta nessas pedras que são
Empecilhos sem vida sugando o meu viver
Parasitas do mal travestidos de bem.
Então já não ligo,
Pois em qualquer situação
Só falam do que é mal
O criando no coração.
Eu não quero ser parte dessa conspiração,
Pois tentei sem medida
Não medir meu viver
Tentando intensamente
Zelar por meu ser.
Tropeçando nas pedras
Postas diante de mim.
Trilhei essa estrada
Que agora chega ao fim.
Nem só de dores
A viagem nessa terra se faz
E nessa passagem
o prazer jaz em paz.
E em outro Norte,
Em outra estação.
Desembarca a morte
Sem exaltação.
Lamento mais a vida
Que não pude viver
Do que a morte vivida
Que não significa morrer,
Pois morrer nessa vida
É o que já se faz
Essas almas caídas,
Que não amam jamais.
Quero partir pra outra, numa situação
Em que o desafeto
Não afete mais um coração.
Sem rancor, sem remorso,
Só insatisfação,
De ter tanta bagagem
Sem que levem em questão.
Trago eu nessa mala
O que foi possível caber
Em tão pouco espaço
Destinado a meu ser.
Não me impeçam de nada,
Não ousem impedir
Que eu siga a estrada
Que liberta daqui.
Se não respeitaram nada,
Nenhum desejo meu,
Nem meu corpo ou minha vida
Por mais que pedi,
Já não peço que façam,
Só que me deixem ir.
Não cabe a ninguém, somente a mim,
Discernir sobre a sorte
Que pretendo seguir
Que respeitem a partida
Escolhida por mim.
Se nunca ajudaram nem fizeram questão
Não atrapalhem a viagem em que estou.
Não convido comigo nesse embarque
A ninguém
Que convidei na vida,
Pra viver e não fez.
Inventaram desculpas
E mentiras sem fim
Justificaram a ausência
Que tiveram de mim.
Então não me impeçam de poder seguir
Só, em minha companhia,
Sozinha enfim.
Se veloz ou mais lenta a partida se der,
Só o que importa é que chegue
Aonde eu e Deus quiser.
Não mandarei notícias,
Não mais as terão,
Os que reclamavam
Diante de mim,
De plantão.
Sossego a todos, é o que se espera
De uma viagem longa,
Tranquila e sem guerras.
Fiquem bem, vou sem mais,
Logo vou viajar.
Que me deixem ir lá
Pra minha paz encontrar.
Diminuam as pedras
Que desejam lançar rumo a mim,
Pois não ouso jamais revidar.
Menos gritos,
Sem vozes a sobressair
Sobre o meu canto pobre
Que roubaram de mim.
A viagem mais bela
É sempre a que está por vir.
O que fizemos já é ido,
Já não nos faz sorrir.
Mas nem precisaria tanta graça encontrar.
Se ao rir de alegria
Mais me fazem chorar.
Se o tempo passou
E o tempo não deu
Oportunidades de ter
Um tempo meu
Que não percamos mais tempo
Impedindo esse adeus.