ARQUIVO MORTO
Um corpo morto não possui beleza,
Ainda mais se for d'alguém querido:
É coisa que jamais havia de ter existido,
Impinge que a vida contém torpezas.
O cadáver daquilo algum dia meu amado
Não me diz
Se prefere um samba ou se prefere um fado,
Não me diz.
Não me diz - " Camilo, feche a cortina, a luz me ofusca".
Observo o corpo morto que nem ao menos luscofusca ...
Tornado noite sem ocaso, sem crepúsculo -
Cadê do Sol ? Como pode ir-se sem lusco fusco ?
É que corpos não são dias, embora os meçamos em anos,
Contemos algarismo por algarismo -
De que adianta choro, saudade e tantos ufanos ?
Este corpo amado perdido em abismo !
Nada traz de volta essências dissipadas
De perfumes exclusivos,
Infelizmente nada há de conto de fadas
Em meus arquivos.