ARQUIVO MORTO

Um corpo morto não possui beleza,

Ainda mais se for d'alguém querido:

É coisa que jamais havia de ter existido,

Impinge que a vida contém torpezas.

O cadáver daquilo algum dia meu amado

Não me diz

Se prefere um samba ou se prefere um fado,

Não me diz.

Não me diz - " Camilo, feche a cortina, a luz me ofusca".

Observo o corpo morto que nem ao menos luscofusca ...

Tornado noite sem ocaso, sem crepúsculo -

Cadê do Sol ? Como pode ir-se sem lusco fusco ?

É que corpos não são dias, embora os meçamos em anos,

Contemos algarismo por algarismo -

De que adianta choro, saudade e tantos ufanos ?

Este corpo amado perdido em abismo !

Nada traz de volta essências dissipadas

De perfumes exclusivos,

Infelizmente nada há de conto de fadas

Em meus arquivos.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 04/07/2018
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