Condolências

Depois da bofetada do destino.

Quando nossa impotência se agiganta

Nos sentimos como um menino

De choro preso, nó na garganta

Na condição de menores e incapazes

O que amadurece em nós é a letargia

E a dor, que por seus tipos merecia análise,

Pouco importa: seu torpor nos anestesia

E nos deixa em estado catatônico

Esvaindo nossa energia vital

Fazendo da tristeza um sentimento crônico

Que da vida só a espera o final

Seriam nossos sonhos desnecessários

Planos perdendo sentido

Já que de nada somos proprietários

Nem o que levamos para o jazigo

Nossa incompetência escancarada

Para a luta do sobreviver nesta terra

Na escolha de armas pegamos a espada

E nos deparamos com tanques de guerra

Em questões que ficam martelando

E para as quais não temos respostas

Terá sentido continuar lutando

Na alegria azarão pôr nossas apostas?

E frente ao Senhor Deus do Incogitado

Nosso interior mostra uma alma aflita

No exterior o ânimo se põe prostrado

E na garganta a vontade de vociferar grita

Para acreditar que não estamos sozinhos

E que seria passageira nossa tristeza

Será a lembrança de nossos heróis o caminho?

Seus exemplos nossa fortaleza?

Quem sabe um remédio para o esmorecer

Para o súbito do óbito estar preparado

E acontecendo o que acontecer

Saibamos lidar com o inesperado

Mas hoje a paralisia é geral

Apatia e pesar estão imperando

E ordenam um sofrimento visceral

E não obedecem a nenhum outro comando

Motivação e desejo de força sempre presentes

Mas não queremos escutar

Nossos ouvidos apáticos também estão ausentes

A dor quer doer para se purgar

E se o tempo pode ser um bálsamo lenitivo

Que nossos relógios sejam ligeiros

Para que a dor não seja um fardo definitivo

Nos deixando inimigos do travesseiro

Porque hoje o pesar é toda substância

Fechando ou abrindo olhos, tudo é escuridão

Clareza só da nossa insignificância

E nuvens sobre se “o viver” não seria em vão

Estes conflitos fazem hoje nossa companhia

E neste palco pensamos tanto faz

Pouco importa nossa dramaturgia

Só o desejo de se encontrar com a paz