PROCISSÃO
La vai o morto,
ausente de tudo.
Sério, pálido e calado,
seguindo a procissão.
Cambaleia pelo caminho torto,
completamente mudo,
dentro de um caixão
que passa de mão em mão,
sem mais nenhum conforto.
E no revezamento daqueles,
que carregam seus sonhos mortos,
o da frente troca com o de trás,
o de trás passa se para o meio,
e o do meio vai para frente.
Do velório, a procissão,
vai seguindo seu destino...
Entra por uma rua escura,
vira em outra esquina.
E sem perder a postura,
vão mantendo aquela sina...
Enquanto o morto cambaleando,
vai passando de mão em mão,
sonolento em seu caixão,
onde o de trás troca com o da frente,
o da frente passa se para o meio,
e o do meio volta se para trás.
O morto segue dormindo,
enquanto lágrimas de comoção,
são derramadas durante a procissão.
Vira se em uma esquina,
ganhando outra nova rua,
enquanto o corpo segue sem vida,
sobe a luz de uma vela fina,
clareada pela lua
solitária e comovida.
La vai o morto,
sem riso e sem cor,
sendo arrastado pela procissão,
que vai debulhando orações.
Rezam terços e ladainhas,
contemplam vários mistérios,
e enquanto caminham pro cemitério,
o morto em seu aconchegante caixão,
vai sendo passado de mãos em mãos,
que trocam sempre de lugares...
O da frente passa para trás,
o de trás passa para o meio,
e o do meio passa para a frente.
O da frente passa para o meio,
o do meio passa para trás,
e o de trás vai para frente.
O de trás vai para o meio,
o do meio passa para frente,
e o da frente vai para o meio.
O de trás vai para frente
o da frente vai para o meio
e o do meio vai para trás.
O de trás passa para o meio,
o do meio vai para trás,
e o de trás vai para a frente.
O do meio troca com o da frente,
o da frente vai para trás,
e o de trás passa se para o meio.
Entra dia, sai dia...
Vira aqui, entra ali...
Chega à noite, raia o dia...
E tudo é sempre a mesma coisa.
Assim vai seguindo
o destino de quem vive dormindo,
enquanto a procissão se adianta.
Reza se mais uma ave Maria,
antes mesmo de servir a janta,
enquanto a procissão vai passando.
Falta bem pouco pro descanso,
do morto que dança, de mão em mão.
É só mais essa esquina, e pronto.
Agora sim, esse é seu ultimo ponto.
A cova faminta já o espera.
O da frente fica parado,
atrás dele vem o do meio
e por último o de trás.
O caixão é deposto no chão,
para o descansar das mãos,
que de esquina a esquina
e de rua a rua, foram se revezando.
Trocando sempre de lugares...
O da frente (...), o de trás (...), o do meio (...).
O do meio (...), o de trás (...), o da frente (...).
O de trás (...), o do meio (...), o da frente (...).
O da frente (...), o do meio (...), o de trás (...).
O de trás (...), o da frente (...), o do meio (...).
O do meio (...), o de trás (...), o da frente (...).
O do meio (...), o da frente (...), o de trás (...).
Por fim é colocado na vala,
aquele corpo sem vida e sem cor.
Um pouco de terra é lançada, sem fala,
como demonstração de afeto e amor.
Agora, para sempre a lápide se fecha,
e sobre a mesma as inscrições,
de eternas saudades.
As pessoas vão se retirando,
cientes de que nenhuma brecha,
ou até mesmo, todas as orações,
lhes trará de volta a felicidade,
de verem novamente, o morto caminhando.
E de volta para casa, cada um em sua posição.
O primeiro que sai na frente, troca com o de trás.
O de trás passa se para a frente e do meio,
vai para frente.
O de trás troca com o da frente.
O da frente passa se para o meio,
e o do meio volta se para trás.
O do meio troca com o da frente,
o da frente vai para trás,
e o de trás passa se para o meio.
Assim vai seguindo a procissão,
com as mãos livres da ocupação,
enquanto a vida segue em frente
por meio de tanta gente,
que mal sabem por que vivem.
Entra dia sai dia, vem à noite, um novo sol,
e a humanidade que caminha sem destino,
nunca saberá quem será o próximo cidadão,
que embrulhado em um novo lençol,
seja um velho, um jovem ou um menino,
também será carregado pela mesma procissão,
e passando de mãos em mãos seguirá o ritual,
onde, o de trás trocará com o da frente,
o da frente passará para o meio,
e o do meio voltará se para trás,
O da frente (...), o de trás (...), o do meio (...).
O do meio (...), o de trás (...), o da frente (...).
O de trás (...), o do meio (...), o da frente (...).
O da frente (...), o do meio (...), o de trás (...).
O de trás (...), o da frente (...), o do meio (...).
O do meio (...), o de trás (...), o da frente (...).
O do meio (...), o da frente (...), o de trás (...).
Leandro Ferreira 14 de junho de 2016.