Aqui jaz alguém

Estou morta por dentro e por fora.

Aqui jaz

apenas restos

de uma mulher sorridente e independente.

Minha vaidade hoje em dia não tem espelho.

Meu reflexo,

enche-me de medo.

Todas as manchas e hematomas cravados na minha pele,

não são nada

perto das que possuo na minha alma.

Quando a noite chega,

uma lágrima rola pelo meu rosto

corrompido pela dor.

Pois sei,

que o monstro está se aproximando.

Quanto mais tento fugir ou correr,

vejo.

Não saí do lugar.

Portanto, minha única escolha é ficar.

Minha dignidade foi perdida há muito tempo,

pela aberração que chamo de "meu marido".

Os seus braços me dão pavor.

Seus beijos nojo.

E quando deito ao seu lado,

sou obrigada a dar o meu amor ao meu agressor.

Violada por chutes.

Violada por socos.

Violada por xingamentos.

Submissa e sem força,

realizei todas as suas vontades

com as mãos atadas e a boca selada.

O primeiro tapa,

vi lágrimas escorrendo pela sua face.

E o perdoei.

Pensei que seria o único,

e tornou-se meu grande engano.

O segundo deixou meu olho roxo,

por apenas ter pedido um xícara de açúcar para o nosso vizinho

que já tinha uma linda família.

Mas ele não achou que esse motivo era o suficiente.

E depois de tantas dores,

física e emocional,

ele ainda não achava o suficiente.

Não achava o suficiente em me ver ali,

grávida dele.

A minha história só acabou no momento

em que ele deu basta nisso tudo.

E esse basta só ocorreu no momento

em que minha vida se cessou

e a morte me levou.

Lúcia Amarantes
Enviado por Lúcia Amarantes em 02/04/2018
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