Partindo da sarjeta o grito que não será reverberado por ninguém.
Que inútil seguir tropeçando nos próprios pés
olhando para o lado, parado, assombrado pelos seus sonhos
seguindo um destino imposto pelo momento,
caminhando pelos símbolos mais tortuosos, que cansam,
inflamáveis sobre meus passos...
quem és tu por trás dessas palavras?
Por gritar não diz, por enfeitar não tem o que dizer...
dentro de seu discurso ressoante escondem-se as intenções
dançando imbecilmente na superfície de tolices...
regurgitando um discurso culto, dizendo, dizendo sem nada a dizer.
estampado, um sorriso datado, um juvenil rosto de perfil,
uma alma angélica, filósofo sensitivo que assina morto
livros de muitas letras
e uma poesia ruminante do fútil, do fétido e do febril,
para alcançar a atenção daquela que não amo, mas uso
para compor o romance morno que todos estão ávidos a invejar.
uma ilusão breve que insiste em querer aparecer
e por poeira fustiga lágrimas em seu olhar,
mas por poeira não significa mais nada se não mais uma voz
ressoando... agrade a todos, um ser que não é nada
que se reveste de dejetos socialmente aceitos
e reaparece belo novamente aos seus olhos...
um andarilho com o rosto esticado a paisagem que lhe é indiferente
um intelectual que repete jargões cheio de sua petulância
um altruísta cego, escondendo no escuro a sua maldade
um ser errante que tudo sente, como todos no mundo, tentando divinizar seu martírio...
mais um rosto sereno, tentando ser aceito pelo seu crivo carente
e que passa angustiado ante a realidade,
surpreendentemente sábia, ardentemente soberana...
mas o que sou se não sou coisa alguma?
sou um símbolo corporativo que disputa com outros símbolos
a sua atenção
que não significa nada, produto de carências e desejos efêmeros
mas que ainda assim se veste bem de suas ilusões...
me jogue para o x me jogue a um coração...
no fundo não há nenhuma razão para isso, no fundo eu não me importo,
quero todos longe e gritar até virar um assombroso esqueleto
que me queimem e me esqueçam e lamentem o espaço que em vão ocupei
sou um alienígena em ponta de forma me adaptando aos seus lábios...
nenhum, nenhum, nenhum humano me basta e eu grito mais uma vez
para que meu grito me dê a atenção de mais um de seus homens
consolando minha carência e relegando meu coração a sarjeta...
da marginal poesia que se perde entre tantas besteiras que nos saltam.
mate-me pois eu grito, mate-me pois odeio esse mundo
e quero queimar de fogo todas as besteiras que nele me inflamam
todos os discursos, que não são nadas, meras formalidades para aquilo
que não é dito
nada importa! nada importa!
apenas o meu prazer e minha visão pessoal...
todos os discursos se calam ante a minha voz.
o amor é apenas uma forma de tirar a liberdade de outro, amarrando-a em mim.