A Caixa na Sala
Me puxam, me puxam!
Puxam-me as cobertas;
Das cobertas me puxam.
Não sei fugir dela.
------
Viram-me, num lençol, e nada;
Viro, numa fronha, e nada.
Continuo ali amarrada,
em uma cama parecida
com a minha;
Entretanto, ao me
acostumar, fui logo
retirada;
Quando isso finda?
------
Reflexos,
em movimento.
Desconexos
momentos;
Resquícios
do Sol.
Lembro de minha cama...
------
Uma caixa de ócio onde
acordo cansada toda vez.
Toda vez sinto-me virada.
Hoje, fria tez, chegou
a única e tão almejada.
Sinto-me fraca toda vez.
Fraca por tudo;
Cansa-me tudo;
Feição parca:
Falso mundo.
-----
Estou acompanhada pelo mal-só.
Questiono-o para levantar, mas
não há resposta sua contendo dó,
apenas a frieza usual, mais nada.
"É apenas o mesmo mal, mais nada",
penso, ali, incrustada na caixa.
------
A caixa fica na sala
pois esta agora é
minha casa.
Aqui vivo eu
e mais nada.
Minto, minto:
Há também quem passa e para.
Entretanto não consigo distingui-los;
Mal vejo face; não ouço fala,
apenas alguns ruídos.
Lembrar: não sei se consigo.
Sinto-me cheia de memórias falsas:
As reais, de mim, estão fugindo.
Este aqui é o meu retiro;
Esta caixa é minha nova casa.
Quem dera lembrarei disso.
------
Coroa de flores na parede:
sob as cobertas do vestido
as olho.
O mal-só causa-me sede:
não levantarei pois estou
em um velório.