Golden gate depression

Obs: Poesia que retrata o documentário "A Ponte" (2006), em uma perspectiva diferente.

Part. 1

Estava aqui em um dia nublado

Perturbado por pensamentos sombrios

Criando monstros em minha cabeça

Sentindo leves calafrios

Deitado sobre a mesa, da cozinha

Não tinha por perto algo para tirar minha vida

A vida parecia sem sentido, tudo sem conexão

O pensamento levava a crer que o suicídio era a solução

As pessoas não conseguiam solucionar minhas dúvidas

As pessoas sentiam a dádiva de viver a vida

E eu de viver a vida sentia dúvida.

Cada dia em piloto automático

Qualquer tipo de comida me embrulhava o estômago

Cada pensamento triste me tirava o sono

Então ficava paralisado, emblemático

Parecia que da minha vida não era dono.

Com o olhar para o fim do túnel

Sem uma luz para iluminar o caminho

Isso levava a crer que era um prelúdio

Do caminho triste que iria percorrer

Com alucinações e a morte zombando em tom de múrmurio

Parecia balbuciar as palavras

E eu, atônito, não entendia

Só que da vida parecia querer apenas me livrar

Sentia que as pessoas tinham pena

Elas não compreendiam o meu jeito de pensar

A vida para os outros era um deleite

E eu não sentia o meu corpo presente

A vida para mim era apenas um enfeite

Então, o fim seria a Golden Gate

Part. 2

Saí de casa com um último café que preparei com todo cuidado

Refeição que dessa vez não embrulhara meu estômago

E pela primeira vez não havia uma sensação de abandono

Mas o fim estava próximo, sem hesitações

Tinha a certeza de que do mundo e da vida sempre fui contrariado

Deixaria de existir em um mundo que achava ser apenas de ilusões

Cheguei na ponte tão bela

Tão vasta em sua formosidade

Mas queria agir com cautela

Com toda a naturalidade

Eram tantas pessoas comuns fotografando os detalhes ao redor

Outras caminhando cotidianamente, carros passando com muita frequência

E eu umedecido em suor, ainda assim agindo com transparência

Pulei o muro e olhei para baixo, olhei para todos os lados

Algumas pessoas notaram algo estranho, que no caso era tão somente eu

Seguiram caminhando assustadas, com a descrença de que iria pular

E eu agarrado com todas as forças na crença de que nada iria me parar

De não estar mais na Terra, de interromper a minha vida

Por conta de uma depressão devastadora, quitando uma dívida

A dívida de estar vivendo sem viver de verdade

A dúvida de me manter vivo com alucinações à parte

E a dádiva que eu não tinha, de saber ali que a vida poderia concluir-se ainda em felicidade

Eu olhei para o céu, acreditando buscar uma resposta para tudo

Então a mente gritava, enlouquecido com tantos pensamentos e projeções

E eu sofria cada vez mais, mudo, com todas essas preocupações

Part. 3

Uma mão me puxou, me guiou para longe do muro

Eu estava fora de mim e uma voz ao pé do meu ouvido, disse, em susurro:

"O erro não está na vida e no viver, no momento está apenas em você"

Aquilo simplesmente me deixou aliviado

Era grande a pressão da vida para um garoto avariado

Então, ali mesmo, fui agachando até ficar sentado

E, extasiado, agradeci: "não sei ao certo o que dizer, mas muito obrigado".

Olhei ao redor e no final das contas não enxerguei quem havia me puxado

E muito menos entendi quem ao pé do meu ouvido havia falado

Apenas senti que a vontade de viver aos poucos estava voltando

Levantei-me aos prantos e me peguei lembrando

"De que a vida é única, maravilhosa e especial

De que o mundo precisa praticar o bem e aos poucos superar o mal

Que de alguma forma estamos todos conectados, só precisamos nos encontrar

Nós vivemos conforme nossas decisões, mas precisamos sempre melhorar

Lutar cada dia por nós, mas sabendo viver o bem, e aos poucos, com calma, respirar."

Segui, com a mente inquieta, a linha de raciocínio:

"Respirar o ar puro, para no final das contas descobrir

Que precisamos passar por dificuldades para voltar a sentir

Que é melhor estar aqui e ir até o fim no caminho certo

Pular etapas é opção, porém a opção do destino incerto."

Que da vida fique a paz, que possamos aprender a resistir

E que o ir embora seja apenas na hora de "partir", e não de simplesmente "desistir".

Recesolo
Enviado por Recesolo em 05/02/2018
Reeditado em 05/02/2018
Código do texto: T6245918
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.