Havia em seus olhos
um silêncio de monastério.
As palpitações cardíacas
eram suaves.
Tênues.
Como se estivessem se despedindo

O peitoral erguia-se lentamente
e de sua boca
ouvia-se alguns fonemas
incompreensíveis.

Perguntava-me:
qual significado importava
naquela soturna hora?

O que queremos dizer.
às vascas da morte
a balbuciar alguma semântica
ou chorar a derradeira mágoa?
 
Ou apenas deixar um
vestígio enigmático
Que nem o tempo
irá decifrar.
 
Tudo é registro.
Nosso corpo é registro.
Nossas palavras.
Nossos escritos.

E os fonemas enigmáticos
despidos de lógica ou
metafísica.

Tudo é registro.
O silêncio sólido
e rotundo

As paredes a guardar
os quadros
que tortos
indicam o limite reto de tudo.

 

Tudo é registro.
A mão que acaricia.
A lágrima não vertida.

O sentimento patético
guardado a sete mil chaves.

A porta fechada ou aberta.
Ou melhor, entreaberta.
Tudo é registro
a cor da roupa.
A forma de comer.


Os talheres a cortar
o que será digerido.
Carcomido e desaparecido.
A manhã registrada no horizonte.
A nuvem sobrevoando a paisagem.
No céu falsamente azul.


E a chuva fina a
umedecer os desejos que
morrem na seca.

Tudo é registro.
A palavra,
o gesto
e, por fim,
o silêncio definitivo:
a morte.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 31/01/2018
Reeditado em 31/01/2018
Código do texto: T6241263
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