"Giorgia"
“A noite chorou na voz do vento,
Que tirou-lhe do corpo, a alma,
Que destrui-lhe a face bela
E lhe gravou na têz do tempo.
De ser tão sólido obstáculo atento,
De ser tão frágil, vida soluta,
Após a dor repentina, a labuta,
De seus pulmões, o último alento.
Na consciência do corpo sangrento,
Na dissidência do vidro quebrado,
Que por espelho, cruel e gelado,
Viu-se a cortar, no exato momento...
Pessoas em torno, glamour violento,
A chuva cortante a hora acompanha,
Luzes vermelhas, girando em campanha.
Plástico e carne, no frio do cimento...
Grande ruído, estrondo opulento,
Do aço amassado, içado do choque,
O sangue na rua marcou o reboque,
A carne sem vida ficou ao relento.
Acolha-se ao mármore, homem atento,
Escolham lhe as vestes da última estada,
Escolham-lhe a caixa, madeira pintada,
Recolham-lhe as flores, de seu ornamento.
[Coberta de flores, causou desalento.]
Anjo de paz, fitada, sem vida,
Menina tão bela, ceifada, vencida,
Livrada do mundo, cruel, avarento...
As horas calaram o topor modorrento,
Planeou-a a família, a mãe desolada,
Amigos estavam na hora marcada.
Fechou-se o caixão e dado momento,
Descida por cordas ao jazigo sedento,
Tijolos lacrando a batalha perdida
E o Sol aquecendo a laje contida,
“Seu nome, uma data, outra data, um lamento”.
(PER UMBRA ALARVM TUARUM - Minha Falecida Amiga Daniele)
2001