MATAR A MORTE

      Matar a morte
      Há muito tempo,
      Com as asas de um anjo,
      A nos enroscarmos
      No breu total é o meu desejo;
      Um truque ao relento...
      Ela é mulher charmosa,
      Fogosa e insaciável,
      Nunca descansa
      Sua fome por carne pálida.
      Dar-lhe-ei músculos de verdade;
      Quanto às asas de Anjo...  
      Farei numa garagem vazia,
      De marcenaria –
      Asas em plumas bem lustrosas,
      Vivissimamente brancas
      Para cegar-lhe os olhos.
      A intenção é quebrar-lhe
      Os ossos num abraço,
      Decepar-lhe o pescoço
      Com a sua foice torta,
      Cortar-lhe os pulsos
      Com lances afinados de penas,
      Agregar-lhe grilhões
      Aos pés incansáveis...
      E sabendo que não
      Pode morrer,
      Certificar-me-ei na guarida
      Do seu claustro sombrio,
      Quando chegar a hora
      Da meia-noite do meu sono
      Fatal, saber que não foi ela
      Quem pôs a mão em mim,
      Mas eu que fui o carrasco
      Do seu último mal.
      “Um machado, uma navalha
      E severos arranhões no corpo
      Foram encontrados em meu apartamento
      Depois de uma semana de desaparecimento.
      Eu venci a mim mesmo.” 
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 29/09/2017
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