NECRÓPOLE
Até mesmo nos cemitérios
há disputa de classes sociais
pelas coisas mais banais
em sepulturas cheias de mistérios.
Alguma muito bem decorada
deixa-nos ver claramente
a importância que foi muita gente
que ali foi enterrada.
Outros corpos já sem almas
vão se apodrecendo no puro chão
esquecidos por toda a população,
sem nunca perder a calma.
Se, no fim de tudo, a fria morte
vem nos buscar sorrateira e certa
para a sepultura que nos aguarda aberta,
não poderemos mais contar com a sorte.
E nos cemitérios com pessoas diferentes
só mesmo uma infinita solidão
há de acompanhar aquela multidão
que outrora se julgava inteligente.
E neste recanto de silêncio e paz
ainda reinam as indiferenças sociais.
Nos túmulos dos que não se julgam iguais
a tantos simples que deixei para trás.
Hoje até os cadáveres têm seu valor,
pois carregam ouro, próteses e platina,
que lhes são arrancados na primeira esquina
por profissionais sem nenhum pudor.
E quando depositados em terra,
outros pobres sem valor comercial
descansam numa cova mais banal
a carreira de desconhecidos que se encerra.
Com a morte, o fim de tudo.
Não precisarei nada levar.
Se possível, boas lembranças hei de deixar,
para que sirvam de estudos,
àqueles que num breve futuro
também irão habitar, com certeza,
a mesma necrópole na mais pura frieza,
de um mundo solitário e obscuro.
Assim ninguém mais estará só.
E todos em um campo santo, reunidos,
estaremos sendo destruídos, apodrecidos,
desmanchados e reduzidos a um só pó.
Cemitério da Paz, Divinópolis (MG), 16 de agosto de 2008.