NECRÓPOLE

Até mesmo nos cemitérios

há disputa de classes sociais

pelas coisas mais banais

em sepulturas cheias de mistérios.

Alguma muito bem decorada

deixa-nos ver claramente

a importância que foi muita gente

que ali foi enterrada.

Outros corpos já sem almas

vão se apodrecendo no puro chão

esquecidos por toda a população,

sem nunca perder a calma.

Se, no fim de tudo, a fria morte

vem nos buscar sorrateira e certa

para a sepultura que nos aguarda aberta,

não poderemos mais contar com a sorte.

E nos cemitérios com pessoas diferentes

só mesmo uma infinita solidão

há de acompanhar aquela multidão

que outrora se julgava inteligente.

E neste recanto de silêncio e paz

ainda reinam as indiferenças sociais.

Nos túmulos dos que não se julgam iguais

a tantos simples que deixei para trás.

Hoje até os cadáveres têm seu valor,

pois carregam ouro, próteses e platina,

que lhes são arrancados na primeira esquina

por profissionais sem nenhum pudor.

E quando depositados em terra,

outros pobres sem valor comercial

descansam numa cova mais banal

a carreira de desconhecidos que se encerra.

Com a morte, o fim de tudo.

Não precisarei nada levar.

Se possível, boas lembranças hei de deixar,

para que sirvam de estudos,

àqueles que num breve futuro

também irão habitar, com certeza,

a mesma necrópole na mais pura frieza,

de um mundo solitário e obscuro.

Assim ninguém mais estará só.

E todos em um campo santo, reunidos,

estaremos sendo destruídos, apodrecidos,

desmanchados e reduzidos a um só pó.

Cemitério da Paz, Divinópolis (MG), 16 de agosto de 2008.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 27/09/2017
Código do texto: T6126525
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.