APRESENTAÇÃO ÚNICA
Pelos incontáveis palcos de minha vida,
depois de interpretar inúmeros papéis,
alguns com plateias numerosas,
que por várias vezes chegaram ao delírio,
e outros tantos que na solidão
eu mesmo fazia de tudo, desde anunciante da peça,
a bilheteiro e porteiro, e de intérprete a plateia,
que chorava e aplaudia ao mesmo tempo
minha arte, na interpretação da minha vivência de vida.
Agora estou interpretando o meu mais recente papel
em uma apresentação única para o público
de toda e qualquer faixa de idade.
Será um acontecimento marcante para muitos,
como uma representação muito triste e comovente,
enquanto que para outros
que sequer me conheceram
será simplesmente mais um dia fúnebre,
em que eu, ali deitado, pálido e gélido,
pelo fogo frio de velas tortas pelas lágrimas derramadas,
talvez de emoção, por verem as flores me abraçando,
com ternura e desprazer dentro de um caixão.
Assim os espectadores estarão assistindo
a este meu papel com tanta atenção de realismo
que eu deixarei que eles olhem, me assistam,
e me apreciem, pois há uma enorme diferença
entre a assistência e a apresentação.
Em que a plateia talvez aplauda
e eu como ator, em hipótese alguma,
regressarei ao palco para os agradecimentos finais.
Nova Serrana (MG), 15 de maio de 2008.