Morte da vida

O desfecho da vida não é quando se sucumbi,

é quando tudo o quanto não é vida adentra na vida,

faz parte da vida, diminui a vida, degrada a vida,

destrói a vida, aniquila a vida, entope os regos da vida,

os afluentes da vida, as veredas da vida.

O término da vida não é quando se perece,

é quando tudo aquilo que não desenvolve, edifica,

embeleza, engrandece, significa, enobrece começa

dissolver a mínima, mísera, frágil e insignificante vida.

É menos laborioso acoplar na vida os vermes externos

obsoletos que são absolutamente trans à vida.

É menos fácil deixar, o que é natural do ser,

fluir para ter na vida algo de valor, quem sabe.

Semeie uma semente de mostarda

no solo fértil que jaz a fenecer.

Regue essa planta quando nascer

— se nascer — para, quem sabe,

se o verão não destruir,

por causa do imprudente,

do insensato, dar um fruto,

e, se o fruto não der bicho, possa comer,

isso se a vida não antes perecer.

É mais fácil ostentar a vergonha, a nudez, a jactância,

a degradação, a inutilidade para ver, achar, tentar,

inutilmente, que está vivendo a vida. Tolice! Burrice!

Cegueira da mente moderna!

Jaz engaiolada na sua própria caverna.

Oxalá!

Fica meu poema como denúncia,

sendo minha testemunha a vida

em forma de cadáver egípcio,

e o réu é o que deu fim à vida.