O Bêbado
Inspirado no Soneto A UM ÉBRIO, do recantista
Poeta Carioca.
Em zigue-zague vai o bêbado, pernas a tremer,
Mimetizando passos de um argentino tango.
Não sei se sinto dó, pena ou se me zango
Quando ele em mim tropeça sem querer.
De seus andrajos exala um odor nauseabundo
Que me causa nojo e ardor nas narinas,
Semelhante ao insuportável cheiro das latrinas
De um cabaré pestilento e imundo.
Balbuciando sons roucos e intraduzíveis,
De sua boca semiaberta a baba escorre,
Consequência de mais um tremendo porre,
Sinais de um final iminente já são visíveis.
Num prodígio de equilíbrio vai pelas ruas,
Vai, indiferente aos perigos que corre.
Diariamente, quase vive, quase morre,
Buscando um modo de afogar as mágoas suas.