Meu discurso fúnebre
Diz dos ais
os tais
adeus
Os meus
pra ti
pra te dizer
ou eu fui fundo demais ou você é que não sabe nadar
ou eu sou profundo ou você é que não faz caso da maré cheia a me afogar
ou eu sou sol, sozinho
ou você é que me vê sem enxergar.
Pra tu
Adeus solene
silêncio
Saudade não faz ninguém voltar
nem em vida nem em morte
mas quem sabe a sorte engana o azar
e é por isso que é surpresa
subitamente acomete
pra ter certeza
do que se não promete
cobra a jura que não se foi jurar
Não há mais olhar
frieza devota
não há mais braços
para os quais voltar
Não há mais "me espera"
Peso e penar
E apesar de pesar tanto
O tempo assopra os cortes
A ferida fechar-se-á
Sanada
E quando pôr na água
Não vais mais gritar.
Quando eu for
Flor que vai na estrada
E for esquecida
Aquecida, em degredo
Quando eu deitar no sono do medo
De modo que não dê medo
Com os olhos fechados
Vou ignorar
Qualquer tentativa de conciliação
de reparação dos danos morais
banais
porque na morte não há lembrança
Na morte
Não há mais