A MORTE E O POETA
Veio a morte questionar ao poeta
no abandono do cemitério:
– Meu caro jovem,
por que tanto mistério?
Por que vem sempre ao cemitério?
Acaso vem me procurar?
Não sabe você que sou malfalada,
e que todos tentam me evitar?
Por que você sempre me procura,
e me cita tanto em sua escritura?
Acaso serei eu a única razão
de toda a sua inspiração?
Assim, tomando a palavra,
disse o poeta à morte:
– Não vês que, assim como tu,
caminho também muito só?
Não sabes tu da minha sorte?
Desde aquele triste dia
em que levaste minha amada
junto a ti, por uma longa estrada,
nunca mais pude ter alegria.
E por sentir-me desolado,
é que aqui sempre venho,
pois nada mais tenho,
senão as lembranças do passado.
Ó morte impiedosa e traiçoeira,
por qual motivo a levaste de mim?
Onde escondeste minha amada?
Não me causes tanta dor assim.
Mostra-me a direção, o caminho certo,
em que eu possa encontrá-la.
Permita que eu a tenha perto de mim,
para acalentar a solidão deste deserto
que em mim ficou por não mais tê-la.
Então a morte com seu cadavérico olhar
lançado ao pobre e desiludido poeta, disse-lhe:
– Não se afobe, pois chegará o dia
em que a sua mão eu pegarei
e na hora certa lhe mostrarei
aquela a qual só lhe deu alegrias.
Assim, o poeta abatido e aflito,
inconformado aos prantos e gritos,
assistiu à morte se despedir
para o mundo dos mistérios seguir.
E, quando, por fim, se foi a morte,
a terra encontrou-se com o céu,
formando um infinito véu,
que cobriu o poeta em sua má sorte.
Era alta noite, fria e escura,
quando este viu sair da imensidão,
após um ensurdecedor trovão,
o vulto da amada cheia de ternura.
Ao aproximar-se, porém, daquela
que outrora só lhe dera prazer,
viu tudo se desfazer
ao fechar as pálpebras em janelas
que nunca mais se abriram.
E, quando, algum tempo depois,
em sua procura encontraram
ali, no cemitério, os dois;
ela, descansado em seu jazigo
num longo sono eterno,
e ele sobre a lápide, de terno,
já sem vida e sem nenhum abrigo.
Ravena (MG), 14 de setembro de 2009.