A CANÇÃO DOS SONHOS MORTOS *
A mãe balança nos braços
o filho que dorme inerme,
a esperar pelo verme
que vem desatar-lhe dos laços
de uma família que finda
ao cair de mais uma noite,
debaixo do mesmo açoite,
pelas lágrimas mal vindas.
Canta a mãe mais uma última vez
a canção de ninar sonhos mortos,
por entre lágrimas em fios tortos,
que correm pelo rosto sem talvez,
enquanto o filho amado, tão querido,
tendo o corpo sobre seus braços,
que o aperta mais num amasso,
ignora o quanto é sofrido
o sentimento de quem nos braços balança,
como querendo fazer acontecer
um milagre que fará renascer
o sorriso daquela inocente criança.
Pobre mãe que nos braços traz
aquele corpúsculo angelical,
ali mostrando que o mal
arrancou-lhe toda a paz.
Que desejo pode uma mulher sentir
após passar pela dor do parto
sobre a mesa, em um quarto,
e logo após ver seu filho partir?
Alguém poderia me responder?
Qual o gosto da fruta tão desejada
que teve sua vida ceifada,
antes mesmo de amadurecer?
Para onde foi o sorriso alegre e puro,
que outrora reinava dentro da casa?
Talvez tenha criado asas
e fugido deste mundo obscuro.
A mãe, porém, enlouquecida,
chorando em grande martírio
traz nos braços o filho
flácido e ausente de vida.
Quantos sonhos desfeitos
dentro do coração materno,
que trouxe a noite o inverno
dos indesejados e imperfeitos.
Ó mãe infeliz e amaldiçoada,
que deixa pelo choro ser levada...
Chora, chora, chora (...).
Chora todo o pranto de dor.
Chora mais que qualquer sofredor.
E enquanto chora lágrimas de fel
pela falta do filho tão amado,
os arcanjos tecem lá no céu
indumentos para o anjo recém-chegado.
Na terra tudo é dor e tristeza.
Não mais haverá alegria.
Pois, na ausência do filho, com certeza,
só restou a dor de uma lágrima fria.
Enquanto lá no céu em grande seresta
os anjos brincam, pulam e dançam
pelas nuvens em grande festa
de muita alegria e esperança,
pois acabam de receber
mais uma alma inocente,
que, transformada em estrela luzente,
lá no céu a noite vem resplandecer,
alumiando a terra,
que vai girando no espaço,
entre conflitos e guerras
pela ausência de um novo abraço.
*Á todas as crianças falecidas.
Nova Serrana (MG) 8 de dezembro de 2009.