AS HISTÓRIAS QUE AS PAREDES CONTAM
“Nos primeiros raios de luz
Que espreitam minhas frestas
Desenham no chão saudades comuns
Saudade que na poeira se manifesta.
Nos primeiros raios de luz
Avisando que já se é outro dia
Acordam poeiras adormecidas na cruz
Pendurada ainda na parede que ouvia.
Nos primeiros feixes de hoje
Vi de olhos fechados
A poeira que repousa
Ainda intacta junto a morta mariposa,
Contam histórias que só aqueles ouvidos ouviam
Que só os pregos velhos enxergavam.
De tempos que chegaram e se foram
Da louça suja na pia
De meu pai drenando a solidão
De minha mãe que não estendia sua mão
De meu irmão que não via
De mim, que ali estava
Sempre a mesma coisa
-Ver e viver já bastava
Que nestes versos me conduz
Como a morta mariposa
Na poeira incrustada da cruz."