TOQUEM OS VIOLINOS
Toquem fundos, os violinos.
Toquem uma ultima vez,
aquela canção da despedida.
Agora não precisarei de mais nada.
Tudo que podia já foi feito.
Devo partir com todos os meus defeitos
e quem sabe, talvez com algumas qualidades.
Não sei bem se ainda restou-me alguma.
Deixem que o vigário faça suas recomendações.
Não o interrompa.
Não o perturbe mais do ele já é.
Só assistam em silêncio a essa ultima cena,
enquanto o coveiro lapida minha lápide.
Talvez eu seja oferecido aos deuses em sacrifício
e minha pobre carne se desfaça lentamente
em uma escura fumaça que subirá até aos céus.
Não preciso de suas lágrimas,
pois bem sabes que seu sorriso alegre
sempre fora o que mais me contentava.
Não quero que gaste seu rico dinheiro com flores.
Pode ser que este venha lhe fazer falta futuramente
e assim sendo você em prantos de arrependimentos,
chorará amargamente a economia que não foi feita.
Guarde as velas para alumiarem sua consciência,
fazendo com que você reflita um pouco
sobre tudo que houve entre nós dois.
Não as queime inutilmente.
De nada mais preciso.
Só gostaria que tocassem os violinos,
e que os toquem bem profundo
a canção da despedida,
que entre nós não houve tempo de acontecer.
Mas não tenhas medo do que está por vir.
Acredite em mim ao menos essa ultima vez.
Os nossos sonhos e segredos, eu os levarei
e os guardarei fielmente em meu tumulo.
Nova serrana (MG), 12 de março de 2011.