Gota sobre túmulo
De que será composta aquela gota
que cairá do rosto do meu amado filho quando
por sobre a minha lápide meu nome mirando,
sucumbida a ilusão magia dos laços da infância
plenamente pela razão carcomidos
qual meus neurônios, meus olhos, meu fígado,
ante as escórias de histórias reveladas do pai
e os escombros de ombros desleixados da avó
e os sábios lábios apertados, piedosos,
de todos os amigos e amantes ilusórios
em confronto com o álibi irrefutável
da psicanálise de todos os meus versos
esquizofrênicos nos quais nunca escondi a fusão
entre o que acho que sou e o que poetizo,
muito embora nunca deixe preciso
quem realmente me fodeu ou me amou,
tampouco o que de verdade sou
no conjunto da minha própria obra,
nem quando consciente das coisas estou
ou há quantos dias estou sóbria?
Terá o sabor indeciso de piedade,
admiração, desilusão e saudade
de uma lágrima?
Ou virá com o cheiro que o álcool surte,
o único exemplo concreto que lhe dei,
em um cuspe?