SEM DESPEDIDAS

Enquanto eu riscava uma navalha nas linhas roxas próximas as mãos,

Fui conduzido a um lugar onde a mente refletia lentamente filmes sobre mim mesmo,

Vagarosamente o suco vermelho desenhava o chão e a pressão diminuía,

O espelho da memória revelava alguém cansado de desistir, que em seu último ato desistiu de tentar,

Era um adeus silencioso, sem despedidas, pois as palavras jamais conseguiriam descrever o que se sentia.

Um momento, e os olhos se fecham e a nuca faz do piso frio um travesseiro,

Deitado em uma fina linha que divide a passagem daquilo que vive e daquilo que só pode ser lembrado,

Nenhum anjo sobrevoava a cena da dor,

E em um céu distante, com suas asas escondiam seus olhos daquele retrato,

A solidão com sua pele fria então segura minha mão,

Fazendo-me recordar que vim sozinho ao encontro do primeiro suspiro,

E na solidão retornaria para o lado de lá.

Pouco a pouco o coração foi espaçando seu ritmo,

A respiração se perde em busca do ar,

É a vida dando lugar a morte, sem saber se um dia poderá retornar e iniciar uma nova história.

Era um jogar sem cartas se retirando da mesa, reconhecendo que o jogo acabou,

Um artista atrás das cortinas, as luzes se apagavam sem aplausos,

Enfim, aquele coração adormeceu em um sono eterno,

E finalmente eu consegui fugir daquela prisão condenada ao desamor.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 16/08/2016
Código do texto: T5730670
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