Rascunhos II

E se a tristeza pudesse ser tirada,

assim, como quem não quer nada?

como não querer nada quando se tem um coração doído?

E se a dor se afogasse no mar do esquecimento?

E fosse embora, e não olhasse para trás?

como não olhar pra trás,

quando o que mais quero é ficar parado,

pra ver se a dor pelo menos não aumenta?

E se o coração partido parasse logo de doer,

pra não magoar,

pra não sangrar?

que sossego se tem quando a tristeza é companhia?

Eu que não vejo o sol há muito tempo,

não sei dizer como é o dia.

Tenho inveja ao sol.

Tenho inveja às plantas.

Tenho inveja de quem morre.

Como se morre?

De que se morre?

Morrer aos poucos a cada dia é o pior dos castigos.

Como morrer de uma vez?

Digam-me!

Aliviem meu sofrimento,

que viver me custa muito...