O ÚLTIMO POEMA
No silêncio do meu quarto, agora
No peito, há dor, nas mãos, há pena
Intento escrever o último poema
E palavras faltam-me nesta hora.
Divago, por sórdidas paragens, ando
Na esperança de meu algoz encontrar
Nesse escuro, não sei onde e quando
As palavras do encéfalo, veio-me roubar
Enfim, de posse de palavras míseras
Que me restam, ponho-me a rabiscar
Linhas, trêmulas, esquivas, tortas
Ao longe, passam-se sombras efêmeras
Escurecem as vistas, falta-me o ar
Cai das mãos a pena com as palavras mortas