Sangue Poético

Respingos vermelhos revelam os resultados de minha última noite de insônia debruçada sobre a escrivaninha

Cicatrizes ao longo da pele dos meus braços confessam que andei usando outra vez meu sangue como tinta

Não posso evitar, é do meu sangue que vem a poesia

Meu rosto pálido encara o espelho com incoerente orgulho

Porque sabe que venceu a luta contra as palavras

E pode recostar-se no travesseiro agora que o sol está para nascer

Sinto-me inebriada, tonta, sem forças

Mas não posso evitar, se é do meu sangue que vem a poesia

É dentro dele que correm minhas dores

É dentro dele que fervem meus amores

É dentro dele que nascem minhas lágrimas

É dentro dele que guardo minhas lástimas

E é derramando-o em solo fértil que nascem rosas

Nem todo o sangue sobre o poema esparramado a mim pertence

É tão doce o rubro líquido nas veias de meus musos

Que talvez, sem pedir autorização, um pouco tenha provado

Não posso evitar, se do seu sangue faço poesia

Se esse rosto exsanguinado me inspira

Pinto a arte de vermelho, e sei o quanto fascina

Minhas ferramentas ainda se espalham pelo quarto

Enquanto em sono de quase-morte me deito

Os respingos tomam conta da mesa e do papel marcado de escarlate

Talvez alguém tenha que a cena limpar

Mas não posso evitar, se das minhas veias escorre sangue poético

Se da minha morte nasce arte