Estarei maduro para a morte?

Quando acordo me pergunto

Estarei maduro para morrer?

Pronto, acabado, realizado,

Nada mais a acrescentar?

E a resposta, usual aparece,

Não, pronto não estou,

Mais um momento eu quero,

Mais um momento de dor.

Ou de prazer, ou de contentamento,

Mais um momento, sim, mais um momento,

Pois que a vida é feita de momentos,

E de movimento e de torpor,

Em sucessivos eventos

De sucessos ou fracassos,

De alegrias ou de embaraços.

Estou maduro? pergunto,

Maduro para morrer,

Hoje, já, nessa hora,

Aqui, calado, agora?

Que nada, capaz de ter perdido o ponto,

E o maduro apodreceu,

Por isso falo tanto no Eu,

O Eu que me mantém-atrapalha,

Que teme tanto a morte certeira,

Que vai chegar, companheira,

E que me impede de estar

Maduro para viver.