ANGÚSTIA

Com um olhar perdido,
Contemplo a janela aberta,
Para os confins do nada,
Evapora-me aos poucos o senso,
Penso em coisas sem sentido,
Os acordes de uma canção,
Ressoam no ouvido,
Uma inquietude acerta,
Em cheio a emoção,
(In)comum reação;
Algo estranho me domina,
Juntamente com a neblina,
Que embaça as primeiras horas,
Torna cinza a minha aurora,
Sou o que não sou,
Vou – já não vou,
Creio; ao mesmo tempo descreio,
Amo, não amo – odeio, não odeio,
Sinto receio de ter receio,
Habitam-me seres divididos,
Incompreendidos,
Sobre o meu colo,
Repousa a angústia do *apóstolo,
“Miserável homem que sou,
O que eu quero, não faço,
O que eu não quero; faço”,
Desfaço-me com a triste melodia,
Que sombria me acaricia,
A alma sai; talvez a passeio,
No seio da manhã orvalhada,
Pobre coitada!
Não tem esse costume,
E se perde calada,
Sem lume.
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Apóstolo Paulo