Porta entreaberta
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E você veio lentamente assim,
sorrindo, tímida, pra mim...
Eram passos fortes, mas lentos;
eram mãos indecisas ao vento...
Onde colocar cada uma delas?
E o vestido que tão majestosamente
encobria suas partes, as partes íntimas,
bailava como a se despedaçar...
E meus olhos, que não se cerravam,
eram os únicos espectadores.
Vivos e atentos, eles exorbitavam!
E da imagem, impressão visual,
eles queriam um contato mais real.
Calma... Sem pressa... Sem toque.
Não me prestarei a nada do que desejo;
não ousarei nenhum toque indiscreto...
Quero apenas olhar o seu despojamento.
E da sua nudez – o meu tormento – ah!
Preciso descrever cada ponto escuro.
De cima os quase soltos cabelos;
Descendo, vejo bicos em riste,
mostrando que a natureza existe.
E existe cheia de elos e castelos.
Prisões que se abrem agora, nossa!
Vejo seus traços, os traços de mulher.
E meus olhos descem, você quer?
Quer mesmo que a desnude assim,
apenas perscrutando sua nudez invulgar?
Se o paraíso existe e creio que sim,
dele você mostra uma porta pra mim.
Você me deixa entrar sem pressa?
Abre pelo menos uma pequena fresta...
Mesmo que não entre, se desejar,
contentar-me-ei com o cheiro do cálice.
E se você me disser agora: cale-se!
Eu nada farei além de sentir a oferta.
Amo pêlos... Amo novelos... Amo sua lã.
Seu corpo desnudo me dá febre terçã.
Ah se me abrisse a porta agora sem medo;
ah se pudesse pentear seu tecido posto;
se pudesse manifestar todo o meu gosto...
Gosto da vida como fato e com enredo.
E este momento, além de genuíno,
revela o homem e o eterno menino
buscando tesouros pérfidos e escondidos.
Sem toque, mas muito intensamente,
sei que ardemos em fogo transcendente.
O que eu sinto e o que você agora sente;
o que vejo, não se esconda, liberte as mãos,
É o resultado de uma obra de arte perfeita.
É a porta ainda entreaberta, porta estreita,
Por onde desejo fortemente um dia entrar.
Nijair Araújo Pinto
Crato-CE, 5 de abril de 2008.
16h22min