Meu senhor, não me faça morrer de amor!

Sei que sou uma criada,

uma mera empregada,

mas não consigo esconder meu rubor.

Quando o vejo acordar;

quando o faço despertar;

queria estar em seus sonhos de amor.

Preparar-lhe o café,

limpar seus aposentos,

lavar suas vestes...

para mim não há nada melhor!

Sentir na roupa usada

o suor do seu dia...

imaginar onde esteve.

Com quem estaria?

Vê-lo sair, passar por mim;

e um "bom dia" se torna "que dia'!

A senhora não gosta

de nossa conversa

e dispensa o filhinho

mais que depressa!

Ao chegar à noite

estou sempre à porta.

Recolho seu paletó

e sirvo o jantar.

Ele evita conversar, e até me olhar

mas um bilhete escondido

consegue entregar.

Espera a senhora sentir um sono profundo,

e como o filho mais maravilhoso do mundo,

pede a bênção e se recolhe.

Ao perceber o terreno sem perigo,

como um travesso menino,

Invade meu quarto e se acolhe.

Arranca minha blusa e o meu avental...

começa agora a melhor parte do dia:

A empregada muda, serena e discreta

torna-se uma amante mais que completa.

Naquele instante sou sua senhora;

sou tudo o que ele quiser.

Ao satisfazer-se em mim

torna-se meu escravo.

Aos poucos desfalece e sonha acordado...

E eu, infeliz, há poucas horas de perder meu reinado.

Despede-se com um olhar,

mudo, sem reação.

Passo o resto da noite acordada,

sonhando com o meu patrão.