Ressurreição da música esquecida

Enquanto um dia amanhece

Outro nasce e morre depressa

Tuas elipses solares transcendem o céu

A lua não permanece.

Ante a confusão

Apenas tu pousas como ave

Apenas tu tens o movimento dos astros distantes

Mas tão próxima, teu brilho não me apavora

Ou me queima.

És assim, nessa calma

Teus cabelos ao redor

Transparente sorriso

Zelo pela vida, giros

Brincadeiras

As risadas, ai...

Tudo tão fora do compasso da vida

A realidade bate-me violentamente a porta

Não quero partir

Segure-me, invente uma desculpa

Minta...

Por mim talvez

Se me amas...

Não, a porta abre-se

Devo partir, entregar-me ao mundo

Onde nem você ou a felicidade participam

Onde sou honesto o tempo todo

Onde meus afazeres são perfeitos

E ninguém me toca a felicidade.

Ah, cruel mundo de aparências

Tua luz infeliz onde cada defeito exposto

Causa mágoa, dor, repulsa.

Não me importa o que pensas

Apenas me exclua dessa vida

Desses gestos premeditados

Da falta de surpresas.

Lembras o que significa 'inesperado'?

E do amor, lembras?

Não, esse olhar outra vez

O único que tens para mim

Homem que lhe conhece

Ou conhecia...

Mais baboseiras, pensas

Tão sensível para um...

Oh, não

Não digas

Saia por aquela porta

Não, eu saio

Eu permaneço

Eu me entrego?

Você se rende?

Somos reféns do mesmo vício?

Ou o mundo tornou-se apenas complicado

E detrás de cada caridade esconde-se uma chaga

E atrás de cada culpa um desejo simples

De gostar que tivesse acontecido.

Ah, pensas tanto

Ou apenas deixaste de pensar

Teus olhos sombrios brilham apenas na imaginação

Nesse teu mundo de espelhos não existe espaço

Sequer para meu reflexo.